Discutir Relacionamento x Comunicação não violenta
Muitas pessoas têm dificuldades de ter uma conversa com seus parceiros, de algo que incomoda, de forma não violenta e julgadora. O tal DR (Discutir Relacionamento). Muitas vezes com abordagens agressivas o relacionamento vai enfraquecendo e o casal vai se distanciando. Existe também as pessoas que têm dificuldades de dizerem o que sentem, muitas vezes não tendo a conversa que precisam, evitando falar, muitas vezes, por medo de perder o(a) parceiro(a) o que torna o problema acumulativo e cada vez a relação vai ficando mais pesada, o que também pode afastar o casal. Tendo em vista essa dificuldade, resolvi escrever este artigo.
No mundo empresarial é muito usado o feedback que é uma forma de comunicação feita entre duas ou mais pessoas, na qual uma delas é avaliada pelos demais com relação às suas ações, comportamentos, tarefas, entre outros, dando um “retorno” às pessoas para orientá-las sobre sua performance e como pode melhorá-la. O feedback visa a conscientização do funcionário sobre seus pontos fortes e fracos e um caminho para poder melhorar os pontos fracos.
Feedback para relacionamento:
Com base no feedback realizado em empresas, criei um modelo de feedback para relacionamentos que pode ajudar nesses momentos tão difíceis para alguns. Lembrando que o mesmo só pode ser feito se seu parceiro(a) está aberto(a) a conversas construtivas e de melhoria na relação. Afinal de contas a relação, além dos objetivos já conhecidos, também serve para o nosso crescimento e evolução e é importante que o casal esteja aberto a mudanças positivas. Abaixo seguem os pontos na ordem de execução:
1. Acalme-se - Quando estiver chateado(a) com seu parceiro ou mesmo tenha que dizer algo difícil para ele(a), acalma-se antes de mais nada e prepare-se para a conversa pensando nos pontos que gostaria de conversar;
2. Anote pontos fortes – É importante lembrar por que estão juntos, então, anote os pontos fortes do(a) parceiro(a) e por que você resolveu ter uma relação com ele(a). Esse ponto é muito importante;
Exemplo: Fulano(a), eu vejo que você sempre cuida de mim e da nossa casa, me ajuda com as tarefas e é uma pessoa muito trabalhadora, te admiro por que você sempre está disposto a ouvir e mudar se necessário. Eu me sinto seguro(a) com você;
3. Anote pontos fracos - Anote em um papel os pontos que você não está de acordo no relacionamento ou com relação a comportamentos e atitudes. Agora, anote qual atitude da pessoa você não gosta, quando ela ocorreu e como se sentiu com relação a ela. Faça uma lista detalhando. Não generalize. Esse ponto é muito importante.
Exemplo: “Apesar de todos os seus pontos fortes, o que me agrada muito, gostaria de falar sobre alguns pontos que me incomodam. O 1º ponto é como foi pra mim o aniversário da sua irmã. Sua atitude de me deixar sozinho(a) me fez sentir negligenciado(a) e deslocado(a), afinal eu ainda não conhecia ninguém”. E assim por diante para cada ponto;
4. Marque a conversa - Dependendo da relação, marque um momento e um local calmo que possam ficar à sós para conversar, sem celulares ou distrações, de preferência. Se morarem juntos, pode perguntar se é um bom momento para conversar e se não for, marcar esse momento. Não é aconselhável pegar seu(ua) parceiro(a) de surpresa;
5. Introduza a questão - No momento da conversa, você pode dizer para a pessoa que está tentando uma abordagem diferente de conversa, um feedback, para evitar julgamentos e brigas. Peça que a pessoa não interrompa até que você finalize. Diga que o feedback se refere a ele(a) e que em outro momento oportuno você também estaria aberto(a) à um feedback da parte dele(a). Explique sobre como fazer o feedback se necessário ou solicite que ele(a) leia esse artigo;
6. Fale sobre os pontos fortes - Comece pelos pontos fortes do(a) parceiro(a), dando um feedback positivo em primeiro lugar, dizendo quais atitudes você considera positivas e como você se sente com elas. Isso vai lembrá-lo(a) por que estão juntos e o quanto você gosta dele(a) e que a conversa não é uma agressão mas uma forma de comunicação. Isso ajuda também você a se lembrar por que você está no relacionamento;
7. Fale sobre os pontos de melhoria - Ao falar dos pontos que você considera que podem melhorar, lembre-se falar das atitudes do(a) parceiro(a) e não da(a) próprio(a) pessoa. Falar da pessoa generaliza e desvaloriza os pontos fortes dela, ofendendo, diminuindo e criando uma reação de autodefesa, o que geram as brigas. Falar das atitudes tem maior efeito no comportamento e tira o peso do julgamento da conversa. Exemplo: Ao invés de “Você é irresponsável” troque por “Sua atitude foi irresponsável quando você deixou a criança sozinha, ela podia ter se machucado” ou “Você é infantil” troque por “Sua atitude foi infantil quando você riu da minha prima na frente dos seus amigos, eu me senti decepcionada e triste com sua atitude, minha prima se sentiu humilhada” ou “Você é prepotente” por “Em minha opinião, sua atitude foi arrogante ao brigar com o garçom que queria nos ajudar, me senti surpreso e decepcionado”;
8. Finalize sua colocações – Comunique que você acabou de dizer o que queria e dê um tempo para que seu parceiro(a) reflita sobre o que você disse. Ao refletir sobre o significado e as implicações do feedback recebido, seu parceiro(a) pode aprender com ele e considerar em quais partes trabalhar, quais partes desconsiderar (se ele não concordar com algum ponto) e quais partes exigem um entendimento mais profundo;
9. Aborde possíveis soluções - Nesse ponto é hora de procurar soluções para a questão. Esteja aberto(a) a perguntas ou para fazer perguntas como: O que você achou do que eu falei? Você concorda com os pontos colocados? Você tem alguma dúvida? Como podemos resolver essa questão? (lembre-se que a atitude é do seu parceiro(a), então, ele(a) deve procurar a solução, mas você pode dar algumas sugestões se ele quiser). Se ele(a) perguntar pra você o que você acha que ele(a) deve fazer, pode sugerir algo e perguntar se ele(a) acha que é aceitável. As vezes basta a conscientização para haver a mudança de comportamento, as vezes é necessário abordagens mais profundas, como uma terapia;
10. Anote as soluções – Após entrarem em um consenso é importante anotar as possíveis soluções para a questão para documentar o que foi acordado entre vocês e para possíveis consultas futuras;
11. Finalize - Reitere para a pessoa o quanto essa mudança de comportamento é importante para você e para o futuro da relação;
12. Agora é hora da ação – observe atentamente se seu(ua) parceiro(a) procurou melhorar os pontos discutidos e se houve mudança de comportamento. Caso não haja a mudança desejada e acordada, você pode retornar novamente para o feedback, seja para dar entender o que aconteceu ou para comunicar alguma decisão. Lembre-se que a pessoa é livre para mudar ou não, não cabe a você mudar seu parceiro(a), mas pode auxiliar nesse processo se ele permitir e vice-versa.
Recebendo o Feedback
Caso seja você que vá receber o feedback, considere os pontos:
· Ao receber feedback, preste total atenção e ouça com atenção: Elimine as distrações, incluindo seu telefone/notebook e concentre-se totalmente na pessoa que está dando o feedback. A presença do telefone, mesmo que você não esteja olhando para ele, afeta negativamente o relacionamento e reduz sua capacidade de se conectar com a outra pessoa. Ouça atentamente o que a outra pessoa está dizendo, resistindo ao impulso de avaliar a precisão da mensagem;
· Não debata ou se defenda: Se você não concordar com algum feedback, pratique a autoconsciência e observe essa reação, mas não ofereça evidências contraditórias ou desafie seu parceiro(a) nesse momento. Tome um tempo para refletir. Se você debater no momento que estão sendo apresentados os pontos, parecerá defensivo e não estará aberto ao feedback e poderá diminuir a probabilidade dessa pessoa oferecer feedback no futuro. Nenhum desses são os resultados que você está tentando alcançar – portanto, é aconselhável não fazer isso nesse momento;
· Assuma suas reações: Você pode se sentir feliz, zangado, confuso ou frustrado com o que ouve. Reconheça que suas reações são sobre você e não sobre o mensageiro. A pessoa que está te dando o feedback é alguém corajoso e generoso o suficiente para compartilhá-lo com você, é sua responsabilidade assumir e explorar suas reações. Ao invés de encontrar falhas no mensageiro, fique curioso sobre si mesmo. Pergunte: de onde realmente vem essa raiva? Por que ajo dessa maneira? Que parte da mensagem é realmente verdadeira para mim, mesmo que eu não queira reconhecê-la?
· Demonstre gratidão: Agradeça de uma maneira que transmita uma apreciação sincera. Se você ouviu algo útil, a pessoa que lhe fornece feedback provavelmente gastou um bom tempo considerando os pontos e como discuti-lo cuidadosamente sem ofender. A pessoa se arrisca sendo sincera, deixe que ele(a) saiba que você aprecia o esforço e a coragem dela e que vai refletir sobre o que ela disse;
· Reflita e avalie: Agora que você tem alguns dados novos, reflita sobre o que ouviu. Ao refletir sobre o significado e as implicações do feedback, você pode aprender com ele e considerar em quais partes trabalhar, quais partes você não concorda e quais partes exigem um entendimento mais profundo. O objetivo é aprender a perspectiva do seu parceiro(a) e fazer melhorias, se concordar. Você pode no futuro dar alguma devolutiva do feedback, sendo para relatar seu progresso ou sobre o que você discorda ou não pode mudar;
· Faça um plano e tome medidas: Todas as etapas anteriores a isso definem você para fazer um plano e colocá-lo em prática caso concorde com os pontos colocados. Escolha um ou dois recursos que você deseja melhorar, fique realmente claro sobre o que é “aprimorado” e considere as etapas necessárias para aprender e adotar esse novo comportamento. Fazer um plano e tomar medidas não é apenas importante para o seu aprendizado e crescimento, eles também são um sinal para aquele que compartilhou o feedback de que você quer melhorar e valoriza as perspectivas dele;
· Sustente o progresso e compartilhe atualizações: Você precisa repetir novos comportamentos por pelo menos dois meses para que eles se tornem novos hábitos. Se você retornar a quem te deu o feedback e contar a eles o que está fazendo de maneira diferente, fornecerá um catalisador para mudar suas perspectivas, validando que você ouviu e apreciou o que eles tinham a dizer e a oportunidade de vê-lo como pessoa que está comprometida com a evolução do relacionamento.
Conclusão: Grandes líderes são grandes aprendizes
“Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar”
Um feedback dentro do relacionamento amoroso pode ajudar não só o seu relacionamento mas na sua vida como um todo, tanto no relacionamento social como profissional. Sua busca interminável de informações o leva a melhorar constantemente e o diferencia do resto. Adquirir novos comportamentos e aprender com o feedback nem sempre é fácil, mas é importante se queremos crescer e prosperar em todas as áreas. Vale a pena desenvolver as habilidades se queremos alcançar todo o nosso potencial dentro das relações.
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